A atuação sempre esteve presente de forma intensa na vida de Julia Lemmertz. Filha dos atores Lineu Dias e Lilian Lemmertz, ela cresceu acompanhando os pais no bastidores de peças, filmes e novelas. "Era brincadeira de criança. Adorava imitar minha mãe, ficar entre as câmaras. Mas sempre tive a sensação de que iria se desenvolver para algo mais sério", destaca a intérprete da Esther, de Fina Estampa. O gosto de Julia pelas Artes Cênicas surgiu em casa e de forma natural. No entanto, mesmo com pais famosos, ela orgulha-se de conduzir e construir sua carreira de forma independente, desde a estreia em Os Adolescentes, minissérie exibida pela Bandeirantes em 1981. "Fiquei tão feliz quando passei no teste! Mas vi que a coisa não era tão simples como na infância. Fui trilhando meu caminho e as coisas foram acontecendo. Nesta profissão, não dá para você pensar tão à frente", analisa a atriz, de 48 anos.
Apesar da ausência de grandes pretensões, a atriz gaúcha hoje ostenta uma elogiada e ativa carreira na tevê, nos palcos e no cinema. Despojada e sem deslumbres com a fama, Julia é do tipo operária, que está sempre envolvida em projetos simultâneos. Mesmo cansada de tantos compromissos atualmente, ela grava a novela no Rio, se apresenta com uma peça em São Paulo e se prepara para rodar um filme , seus olhos ainda se enchem de brilho ao falar de sua personagem na novela de Aguinaldo Silva. "Toda vez que penso em dar uma pausa, aparece algum convite irrecusável. A Esther é um daqueles tipos que qualquer atriz gostaria de fazer. Ela tem um propósito interno forte e relevante. Estou adorando", entrega.
P - Este ano você completa 30 anos de carreira. O que ainda a instiga a interpretar?
R - O que me faz voltar aos estúdios de tevê, ao cotidiano cansativo de uma novela, é contar uma história. Ter algo legal para dizer e causar alguma comoção em quem está assistindo. Ao longo do tempo, a gente fica mais experiente e exigente com o trabalho. Tem de ser algo humano e interessante, que mexa comigo de alguma forma e eu sinta que isso possa ser bacana de ser visto.
P - Na vida ou no trabalho, a passagem de tempo a assusta de alguma forma?
R - Prefiro não pensar muito nisso. Não faço essas contas, mas outro dia alguém estava falando sobre isso em casa, e foi aí que parei um pouco para analisar esses anos. É uma data redonda, mas, ao mesmo tempo, tenho tanta coisa para fazer. Enfim, acho que é só um número. Assim como eu tenho 48 anos e sinto, sinceramente, que tenho menos. É tudo muito relativo. Claro que é meio assustador você pensar que 30 anos se passaram. Mas o susto fica menor quando penso que já tenho uma filha de 23 anos. Por que não ter 30 de carreira?
P - Ao analisar essas três décadas, qual é a primeira coisa que vem a sua mente?
R - Independência artística. Em um primeiro momento, lá no início, eu fui fazendo tudo o que pintava. Isso foi ótimo para experimentar de tudo um pouco, ter boas e más lembranças de trabalho. Porém, com a maturidade fui elegendo mais as coisas que gostaria de fazer em um determinado momento. Em alguns períodos gosto mais de estar no teatro, penso mesmo que é nos palcos que me preparo para fazer todo o resto. Isso vai mudando ao longo do tempo. Em algumas épocas, faço mais cinema, em outras, me dedico à tevê. E, em um momento de loucura, topo fazer as três coisas ao mesmo tempo, como agora.
P - Você está gravando Fina Estampa, ensaiando para fazer um filme e em cartaz com a peça Deus da Carnificina. Como consegue conciliar esses compromissos?
R - É bem difícil, mas desde de que comecei a conversar com a equipe da novela, expliquei minhas limitações. Por isso, gravo sempre até quinta. Só assim dou conta de gravar a novela no Rio de Janeiro e fazer a peça em São Paulo. O projeto para o cinema está no início, então não me toma tanto tempo. Sabia que ia ser apertado, mas pensei no futuro. Ano que vem eu paro um pouco. Não tenho mais 20 anos. Não dá mais para ficar nessa rotina. Tenho filhos, casa, toda uma vida. Preciso me dedicar a algo que não seja apenas trabalho.
P - A falta de tempo fez com que você deixasse o comando do Revista do Cinema Brasileiro, programa exibido pela TV Brasil. Foi complicado largar um projeto que você está desde o início?
R - Tinha um prazer enorme pelo programa! Sempre fui muito amiga do (diretor) Marco Altberg. Vivemos esse programa juntos durante 16 anos, quase um casamento. O programa era semanal e eu gravava uma vez por semana. Porém, era um processo bem difícil. Pois tinha de entrevistar as pessoas, saber do que eu estava falando, me preparar. Além disso, o único dia livre que eu tinha na semana era para isso. Tive de abrir mão dessa função em respeito ao programa também, que merece mais que uma apresentadora apressada, cansada e estressada. Queria me dedicar, mas não estava mais dando conta.
P - Logo depois do fim de Araguaia, de 2010, surgiu o convite para Fina Estampa. Mesmo cansada, você não recusou. Foi alguma imposição da Globo?
R - É difícil dizer não para uma novela das nove. É o principal produto da casa, então a direção da emissora quer um carinho especial dos contratados com essa faixa. Tenho uma boa relação com a direção da Globo e não sofri pressão nenhuma para aceitar o papel. Foi uma vontade minha mesmo. Mesmo tendo feito muitas novelas nesse horário, fiquei a fim de voltar a trabalhar com o Wolf (Maya) e com o Aguinaldo (Silva), autor que eu não faço há bastante tempo e que foi um dos primeiros com quem trabalhei na emissora.
P - A primeira vez que você trabalhou em um texto do Aguinaldo foi em Otelo de Oliveira, um Caso Especial de 1983. Quais lembranças você tem desse trabalho?
R - Tinha 19 anos e acabado de fazer Eu Prometo. O especial foi meu segundo trabalho na Globo. Uma adaptação do texto de Shakespeare, ambientada no universo do samba e gravada no morro. Um trabalho muito lindo! O Roberto Bonfim fazia o Otelo, eu a Desdêmona. Depois, fiz Tenda dos Milagres (1985), minissérie do Aguinaldo baseada no romance do Jorge Amado. Só voltei a trabalhar em alguma coisa dele em Porto dos Milagres, de 2001, que também era algo dentro do universo do Jorge. Era um barato fazer a Genésia, uma beata virgem, uma personagem superdivertida. Fina Estampa é a primeira vez que faço uma novela urbana e moderna dele. Estava sempre naquela linha do realismo fantástico.
P - Sua personagem em Fina Estampa é uma mulher que já passou dos 40 anos e deseja ser mãe a qualquer preço. Você teve alguma preparação especial para a Esther?
R - Sempre que tenho de encarar um novo personagem, tento moldá-lo, enchê-lo de referências e histórias diferentes. No caso da Esther, fui muito pela história que o Aguinaldo queria abordar. Pesquisei muitas coisas sobre inseminação artificial, reprodução humana, a idade dos óvulos. Paralelo a isso, ela tem uma empresa de moda-praia com o marido. Para esse lado da personagem, conversei com a estilista Lenny Niemeyer. Queria saber melhor como era o processo criativo e de produção dela. Mas isso tudo é mais para me alimentar do que para reproduzir na novela.
P - Além da parceria profissional, o casamento da Esther com o Paulo estremece desde que ela resolve engravidar a partir de uma inseminação artificial com óvulos e espermatozóides doados. Você chegou a conhecer mulheres que fizeram de tudo pela maternidade?
R - Estudei alguns casos. Entendo o desejo de mulheres que querem engravidar, mesmo que isso signifique o fim de um relacionamento estável. É uma necessidade muito difícil de compreender quando você não é mulher. É algo que só nós passamos: gravidez, parto, amamentação, são coisas exclusivas do universo feminino. Os homens até participam ativamente disso, mas eles não tem essa transformação dentro de si. Recebem o filho pronto.
P - A forte amizade entre a Esther e a médica Daniela, de Renata Sorrah, fez com que se suspeitasse de que as duas teriam um caso, o que já foi desmentido pelo autor da novela. A personagem sofreu alguma censura e mudou de trajetória?
R - Nada disso. A imaginação de alguns jornalistas e veículos de imprensa ficou mais fértil que o normal. Se antes só inventavam coisas a respeito dos atores, agora os personagens entraram na roda. Não quis dar meus palpites sobre essa polêmica, mas agora todos podem ver que a informação não procede. O envolvimento das duas personagens nunca existiu na sinopse. Seria meio sem sentido, uma mulher que está querendo engravidar, que se predispõe a fazer uma fertilização "in vitro" com tudo doado, ainda ter um caso com sua médica. Isso não cabe na trama dela.
Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul
Apesar da ausência de grandes pretensões, a atriz gaúcha hoje ostenta uma elogiada e ativa carreira na tevê, nos palcos e no cinema. Despojada e sem deslumbres com a fama, Julia é do tipo operária, que está sempre envolvida em projetos simultâneos. Mesmo cansada de tantos compromissos atualmente, ela grava a novela no Rio, se apresenta com uma peça em São Paulo e se prepara para rodar um filme , seus olhos ainda se enchem de brilho ao falar de sua personagem na novela de Aguinaldo Silva. "Toda vez que penso em dar uma pausa, aparece algum convite irrecusável. A Esther é um daqueles tipos que qualquer atriz gostaria de fazer. Ela tem um propósito interno forte e relevante. Estou adorando", entrega.
P - Este ano você completa 30 anos de carreira. O que ainda a instiga a interpretar?
R - O que me faz voltar aos estúdios de tevê, ao cotidiano cansativo de uma novela, é contar uma história. Ter algo legal para dizer e causar alguma comoção em quem está assistindo. Ao longo do tempo, a gente fica mais experiente e exigente com o trabalho. Tem de ser algo humano e interessante, que mexa comigo de alguma forma e eu sinta que isso possa ser bacana de ser visto.
P - Na vida ou no trabalho, a passagem de tempo a assusta de alguma forma?
R - Prefiro não pensar muito nisso. Não faço essas contas, mas outro dia alguém estava falando sobre isso em casa, e foi aí que parei um pouco para analisar esses anos. É uma data redonda, mas, ao mesmo tempo, tenho tanta coisa para fazer. Enfim, acho que é só um número. Assim como eu tenho 48 anos e sinto, sinceramente, que tenho menos. É tudo muito relativo. Claro que é meio assustador você pensar que 30 anos se passaram. Mas o susto fica menor quando penso que já tenho uma filha de 23 anos. Por que não ter 30 de carreira?
P - Ao analisar essas três décadas, qual é a primeira coisa que vem a sua mente?
R - Independência artística. Em um primeiro momento, lá no início, eu fui fazendo tudo o que pintava. Isso foi ótimo para experimentar de tudo um pouco, ter boas e más lembranças de trabalho. Porém, com a maturidade fui elegendo mais as coisas que gostaria de fazer em um determinado momento. Em alguns períodos gosto mais de estar no teatro, penso mesmo que é nos palcos que me preparo para fazer todo o resto. Isso vai mudando ao longo do tempo. Em algumas épocas, faço mais cinema, em outras, me dedico à tevê. E, em um momento de loucura, topo fazer as três coisas ao mesmo tempo, como agora.
P - Você está gravando Fina Estampa, ensaiando para fazer um filme e em cartaz com a peça Deus da Carnificina. Como consegue conciliar esses compromissos?
R - É bem difícil, mas desde de que comecei a conversar com a equipe da novela, expliquei minhas limitações. Por isso, gravo sempre até quinta. Só assim dou conta de gravar a novela no Rio de Janeiro e fazer a peça em São Paulo. O projeto para o cinema está no início, então não me toma tanto tempo. Sabia que ia ser apertado, mas pensei no futuro. Ano que vem eu paro um pouco. Não tenho mais 20 anos. Não dá mais para ficar nessa rotina. Tenho filhos, casa, toda uma vida. Preciso me dedicar a algo que não seja apenas trabalho.
P - A falta de tempo fez com que você deixasse o comando do Revista do Cinema Brasileiro, programa exibido pela TV Brasil. Foi complicado largar um projeto que você está desde o início?
R - Tinha um prazer enorme pelo programa! Sempre fui muito amiga do (diretor) Marco Altberg. Vivemos esse programa juntos durante 16 anos, quase um casamento. O programa era semanal e eu gravava uma vez por semana. Porém, era um processo bem difícil. Pois tinha de entrevistar as pessoas, saber do que eu estava falando, me preparar. Além disso, o único dia livre que eu tinha na semana era para isso. Tive de abrir mão dessa função em respeito ao programa também, que merece mais que uma apresentadora apressada, cansada e estressada. Queria me dedicar, mas não estava mais dando conta.
P - Logo depois do fim de Araguaia, de 2010, surgiu o convite para Fina Estampa. Mesmo cansada, você não recusou. Foi alguma imposição da Globo?
R - É difícil dizer não para uma novela das nove. É o principal produto da casa, então a direção da emissora quer um carinho especial dos contratados com essa faixa. Tenho uma boa relação com a direção da Globo e não sofri pressão nenhuma para aceitar o papel. Foi uma vontade minha mesmo. Mesmo tendo feito muitas novelas nesse horário, fiquei a fim de voltar a trabalhar com o Wolf (Maya) e com o Aguinaldo (Silva), autor que eu não faço há bastante tempo e que foi um dos primeiros com quem trabalhei na emissora.
P - A primeira vez que você trabalhou em um texto do Aguinaldo foi em Otelo de Oliveira, um Caso Especial de 1983. Quais lembranças você tem desse trabalho?
R - Tinha 19 anos e acabado de fazer Eu Prometo. O especial foi meu segundo trabalho na Globo. Uma adaptação do texto de Shakespeare, ambientada no universo do samba e gravada no morro. Um trabalho muito lindo! O Roberto Bonfim fazia o Otelo, eu a Desdêmona. Depois, fiz Tenda dos Milagres (1985), minissérie do Aguinaldo baseada no romance do Jorge Amado. Só voltei a trabalhar em alguma coisa dele em Porto dos Milagres, de 2001, que também era algo dentro do universo do Jorge. Era um barato fazer a Genésia, uma beata virgem, uma personagem superdivertida. Fina Estampa é a primeira vez que faço uma novela urbana e moderna dele. Estava sempre naquela linha do realismo fantástico.
P - Sua personagem em Fina Estampa é uma mulher que já passou dos 40 anos e deseja ser mãe a qualquer preço. Você teve alguma preparação especial para a Esther?
R - Sempre que tenho de encarar um novo personagem, tento moldá-lo, enchê-lo de referências e histórias diferentes. No caso da Esther, fui muito pela história que o Aguinaldo queria abordar. Pesquisei muitas coisas sobre inseminação artificial, reprodução humana, a idade dos óvulos. Paralelo a isso, ela tem uma empresa de moda-praia com o marido. Para esse lado da personagem, conversei com a estilista Lenny Niemeyer. Queria saber melhor como era o processo criativo e de produção dela. Mas isso tudo é mais para me alimentar do que para reproduzir na novela.
P - Além da parceria profissional, o casamento da Esther com o Paulo estremece desde que ela resolve engravidar a partir de uma inseminação artificial com óvulos e espermatozóides doados. Você chegou a conhecer mulheres que fizeram de tudo pela maternidade?
R - Estudei alguns casos. Entendo o desejo de mulheres que querem engravidar, mesmo que isso signifique o fim de um relacionamento estável. É uma necessidade muito difícil de compreender quando você não é mulher. É algo que só nós passamos: gravidez, parto, amamentação, são coisas exclusivas do universo feminino. Os homens até participam ativamente disso, mas eles não tem essa transformação dentro de si. Recebem o filho pronto.
P - A forte amizade entre a Esther e a médica Daniela, de Renata Sorrah, fez com que se suspeitasse de que as duas teriam um caso, o que já foi desmentido pelo autor da novela. A personagem sofreu alguma censura e mudou de trajetória?
R - Nada disso. A imaginação de alguns jornalistas e veículos de imprensa ficou mais fértil que o normal. Se antes só inventavam coisas a respeito dos atores, agora os personagens entraram na roda. Não quis dar meus palpites sobre essa polêmica, mas agora todos podem ver que a informação não procede. O envolvimento das duas personagens nunca existiu na sinopse. Seria meio sem sentido, uma mulher que está querendo engravidar, que se predispõe a fazer uma fertilização "in vitro" com tudo doado, ainda ter um caso com sua médica. Isso não cabe na trama dela.
Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul

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